Janeiro 10, 2009
jojoratazana
Erros e oportunidades perdidas
Co-director do Palestine-Israel Journal, o jornalista de Telavive Hillel Schenker constatou que "vários pecados originais conduziram a este momento", e um deles foi o ex-primeiro-
-ministro Ariel Sharon ter insistido numa retirada unilateral da Faixa de Gaza, no Verão de 2005. Sharon recusou coordenar a transferência do território com a Autoridade Palestiniana e rejeitou o presidente Mahmoud Abbas como interlocutor. Isso permitiu ao Hamas "clamar que foi a sua 'resistência' que forçou Israel a recuar e que as negociações defendidas por Abbas não produziram resultados", escreveu Schenker no jornal The Nation.
Assim que o exército saiu e os colonatos foram desmantelados, Gaza mergulhou na anarquia com milícias e clãs mafiosos a agirem sem qualquer controlo. E os rockets não deixaram de cair sobre as cidades do Sul de Israel.
Ainda que elogie a coragem de Sharon, também Daniel Levy, cientista político na New American Foundation, nota que a retirada, por ser unilateral, deixou mais questões em aberto do que resolvidas. "Gaza foi encerrada ao mundo, a Cisjordânia permaneceu sob ocupação e o que tinha o potencial para ser um gesto construtivo em direcção à paz tornou-se numa fonte de novas tensões", comentou o artífice da Iniciativa (de paz) de Genebra no huffingtonpost.com.
2. Eleições e boicote
Depois da morte de Yasser Arafat, a Administração de George W. Bush estava tão determinada a "democratizar" a Palestina que ignorou todos os conselhos para não insistir na realização de eleições em Janeiro de 2006. O resultado foi o mais temido: um voto de protesto contra o poder corrupto da Fatah e uma vitória esmagadora do Hamas.
E o que fizeram os Estados Unidos, a Europa e o resto da comunidade internacional depois de os islamistas terem conquistado a maioria no parlamento em eleições com base nos Acordos de Oslo, que o grupo sempre renegou? "Em vez de testarem a capacidade de o Hamas governar com responsabilidade e o encorajarem a integrar-se na arena política afastando-se da luta armada", observou Levy, a resposta do mundo "foi cercar Gaza, isolar o Hamas e tentar derrubá-lo por meios não democráticos".
Levy acha que uma parte do Quarteto, talvez os representantes da União Europeia e das Nações Unidas, deveria ter mantido uma porta de comunicação com o Hamas. Schenker disse que "Israel e a comunidade internacional deveriam ter tentado um compromisso com o governo do Hamas, mesmo sem garantias de sucesso".
Aconteceu o contrário. Em 2007, quando os sauditas estavam a negociar um governo de "unidade nacional" Fatah-Hamas, os EUA tudo fizeram para o inviabilizar, oferecendo treino militar e armas às forças de segurança na Cisjordânia para derrotar o movimento islâmico.
Esta percepção de que a Fatah conspirava com a CIA foi o detonador para o sangrento "golpe de estado" do Hamas contra os seus rivais pelo controlo de Gaza, no Verão de 2007. Como retaliação, Israel declarou Gaza "entidade hostil" e sujeitou 1,5 milhões de habitantes a um severo bloqueio, na esperança de que se revoltassem contra os novos governantes. Em vão. O Hamas respondeu com rockets, agora com mais alcance, ainda que imprecisa pontaria.
Não vencido mas isolado, o Hamas aceitou uma trégua com Israel, mediada pelo Egipto, que envolvia o fim dos disparos mas também o levantamento do bloqueio e a suspensão dos "assassínios selectivos" - uns e outros violaram o acordo por diversas vezes.
3. Força aos extremistas
O historiador Gershom Goremberg, autor da obra The Accidental Empire: Israel and the Birth of the Settlements, 1967-1977, lamenta que o cerco israelita não tivesse sido levantado mais cedo e, pelo contrário, tivesse sido reforçado. "Se tivesse anunciado que aceitava um governo Fatah-Hamas, que estava disposto a manter o cessar-fogo e a negociar a paz, Israel teria pressionado o Hamas a moderar as suas posições - ou provocaria até uma cisão no movimento", salientou Goremberg na revista The American Prospect. Porque havia líderes do Hamas receptivos a partilhar o poder com a Fatah e a clarificar a sua posição sobre uma solução de dois estados nas fronteiras de 1967. Prevaleceram os que optaram pelo terrorismo.
Agora, com os rockets ainda a cair no Sul de Israel, apesar de uma ofensiva que já causou mais de 700 mortos e 3000 feridos palestinianos, Goremberg avisa: "Reconquistar Gaza será uma vitória táctica e um desastre estratégico, que transformará o exército israelita num alvo diário para a guerrilha. Derrubar o regime do Hamas deixará Gaza num caos", que jihadistas simpatizantes da Al-Qaeda vão explorar. Já não basta uma "fachada" de cessar-fogo. "É preciso encontrar também uma solução para o futuro da Cisjordânia e reintegrar o Hamas numa única entidade política palestiniana. A mediação e a ajuda internacionais serão necessárias, mas a uma escala maior do que o actual policiamento da fronteira Gaza-Egipto."
Concluiu a revista The Economist num recente editorial: "Uma vez que o Hamas não vai desaparecer, é preciso encontrar maneira de o fazer mudar de ideias [aceitar Israel]. E só bombas não farão isso."
Artigo publicado no Jornal Público de 9/1/2009
Análise de Margarida Santos Lopes
Ao publicar este artigo neste meu post pergunto ?
Se esta forma de fazer jornalismo isenta e sem sectarismo não é a mais correcta?
Isso leva-me a agradecer esta análise de Margarida Santos Lopes que vem mostrar aos comentadores e jornalistas da área dos Neocomnada como se tratam seriamente os assuntos.
Aprendam e para verem a diferença aqui deixo o exemplo de uma grande jornalista da área dos NEOCOMNADA Helena Matos e o seu artigo publicado no Espaço Público de 8/1/2009 com o titulo de "Livro de estilo para referir Israel ".
JOJORATAZANA
http://blasfemias.net/2009/01/11/livro-de-estilo-para-referir-israel/#comment-103325